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Tapa palavra com variadíssimos significados. É uma forma verbal na 3ª pessoa do singular, do presente do indicativo do verbo tapar, que nada tem que ver com o que se passa a descrever. Esta palavra tem aplicações de tapamentos, ou sapatos,
até à culinária. Nesta área, para qualquer Barranquenho a Tapa não é desconhecida, mas certamente ignorada por alguns.
Posto isto, passo a relatar o que a história nos diz. Oriunda de Espanha, tinha por finalidade de ser colocada na boca da taça, com bebida, para evitar a entrada de pó. Usavam-se fatia de queijo, presunto ou outras. É um aperitivo servido, desde tempos remotos, nos bares e restaurantes de Espanha para acompanhar as bebidas que, segundo lendas, de conhecimento oral, existem várias
hipóteses sobre o aparecimento das Tapas. Um dos mais conhecidos diz que as Tapas surgiram no século XIII durante o reinado de Afonso X
de Leão e Castela que, devido a uma doença se viu obrigado, a tomar goles de
vinho e, para evitar a embriaguez, comia alguma coisa acompanhando o vinho.
Outra, conta que os reis católicos
obrigaram os taberneiros a servirem, com a taça de vinho ou cerveja, uma Tapa, fria: queijo; presunto;
chouriço, o que houvesse.
Uma
versão popular mais simples diz que as Tapas surgiram
da necessidade dos trabalhadores em adquirir força para seguir trabalhando até
a hora do almoço. Essa necessidade era preenchida com a ingestão de um pouco de
comida acompanhada por um pouco de vinho. Todavia é antigo o costume espanhol de se
comerem pequenas porções de comida para aliviar a fome.
Entretanto, com a expansão por toda
a Espanha, este hábito, converteu-se num fenómeno culinário exportado para
outros países, nomeadamente: EUA, América Latina e outros, sem esquecer
Portugal.
Dada esta pequena introdução passo
a narrar o que é a Tapa em
Barrancos.
Barrancos, situado na fronteira Leste
do país, que desde cedo começou a adquirir costumes e culturas com os povos
espanhóis mais próximos, em especial Encinasola por distar 9 Km e, também,
ainda que mais distantes, Oliva de la Frontera, Higuera la Real e Fregenal.
Tomando aquela lenda, pensa-se que neste intercâmbio a Tapa foi uma das bases da culinária que o povo de Barrancos
adquiriu, prevalecendo até os dias de hoje.
Quando, chegado a um café,
sociedade, restaurante, hotel e pedir uma taça, um jarro de ¼ litro ─ que
predomina ─, ou uma garrafa de vinho, a Tapa,
fria ou quente, acompanha sem necessidade de ser pedida, incorporada no custo
da bebida. Com a cerveja não há Tapas,
mas às vezes, os empresários, põem também amendoins ou outros. É óbvio que com
um bom vinho não há melhor acompanhamento do que uma boa Tapa. Quantas vezes pessoas, de passagem por Barrancos, constatando
este facto, se interrogam, exclamando: Como é possível! Depois, quando se
explica o “fenómeno” responde, a grande maioria, que em nenhuma parte do
território nacional se verifica tal prática. De facto não se sabe concretamente
se em todo o território fronteiriço ou não, se
pratica este sistema. Mas por aquilo que se ouve dizer, julga-se que Barrancos
será o único ou muito próximo de sê-lo.
É um sistema implementado desde os
primórdios dos tempos. Uma forma de
socialização entre amigos.
Chegado o desejado Domingo, dia de
descanso com momentos de descontração depois de uma semana de trabalho árduo, os
trabalhadores rurais em especial e alguns artífices, juntavam-se nas tabernas
bebendo uns copos de vinho com a boa Tapa. Daí seguiam para outras, grupos de 6/7
indivíduos, às vezes até mais, entoando as nobres quadras ancestrais alentejanas,
que nos transmitem os sentimentos e momentos do quotidiano, pelas ruas até
chegarem à taberna mais próxima. E assim prosseguiam por umas quantas, −
bebendo uns copos e Tapeando ─
ora numa, ora noutra.
Barrancos sempre teve variadíssimas
tabernas que serviam Tapas de
excelência. Quais, dos que provaram, não se lembram das pardelhas assadas com
coentros, cebola, alho e azeite com que alguns taberneiros, por exemplo: Tio
Tomás Tereno, entre outros, tinham o
gosto de nos presentear?
Barrancos, também se preza de ter
variadíssimos cantadores do cante alentejano que outrora se elevaram em concursos
conquistando alguns 1ºs. lugares. Foi possuidor de dois grupos, qual deles o
melhor. Pena que hoje não haja um, que represente a nossa terra por outros
mundos.
Entretanto, a título de
curiosidade, passo a citar as tabernas, cafés e restaurantes, que recordo,
algumas, com nostalgia, desde a década de 50 do século transato: tabernas do tio
Zé Grabiel, na Rua da Parra; Tio Manuel Pelador, Rua Jerónimo
Vasquez; Zé Fialho (Zacarias), Rua da Igreja;
Sociedades Recreativa e Sociedade União, na Praça da Liberdade;
A Pipa e Tia Remédio e Café Central, Rua da Praça da Liberdade ; Tio Zé Burgo e Tio João Bergano,
conhecido por Joanilho, na Rua S. Sebastião; Tia Vitória, Largo do Altossano; Zé Basso, hoje Restaurante A Esquina, na Rua das Fontainhas; Manuel Ortega, mais tarde Tio Zé Burgos, tio
António Oliveira conhecido por António Bomba, Tio António Nunes/Domingos
Fretes, André Taberneira mais tarde José Costa, conhecido por Zelilha, Tio António
Currito, Gabriel, Tio Tomás Tereno mais tarde Florindo Carvalho, Manuel Costa,
conhecido por Manuel Minhoca, na Rua Forças Armadas; Zé Nunes, Tio António
Bergano, conhecido por António Lalo, Sociedade Filarmónica, Tio Zé Mourenho,
Tio Mateo, Largo de Montes Claros; Tio Zé Nunes (pai), Zé
Nunes (filho), Tio Sequeira, Carlos Mourenho, Restaurante Miradouro, Diogo
Pelau, António Lobo, João Cantare, Carlos Durão, mais tarde outros, Tio Carixa
e Hotel Agarrocha, Rua 1.º de Dezembro;
Manuel Candêo, Rua de Moçambique.
Barrancos, 17 de Janeiro de 2021
ass)José Peres Valério