A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou a
decisão de notificar os serviços e centros de saúde para "eliminarem, de forma imediata, quaisquer procedimentos que, direta ou indiretamente, impliquem o estabelecimento ou predeterminação de um número máximo de atendimentos não programados por motivo relacionado com doença aguda, vulgo “
vagas do dia”.
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Em síntese, a ERS veio dizer que os centros de saúde devem cumpram a sua função: "atender os doentes". A decisão da ERS, que peca por tardia, é muito importante para milhares de utentes (doentes) dos centros de saúde, que passam horas e horas nas filas para "apanhar senha" e depois não têm vagas! Se esta decisão for cumprida, as urgências hospitalares ficarão mais libertas e os cuidados de saúde primários cumprem a sua função. Mas, para que isso possa acontecer haverá também, em muitos casos, que reforçar o pessoal médico e de enfermagem, que esta política de cortes e mais cortes
não prevê.
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Informação complementar: o caso de Barrancos
Como é sabido, os utentes do centro de saúde de Barrancos há anos que não são sujeitos à vexação de levantar-se de madrugada (todos conhecemos relatos destes) para "apanhar senha".
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O utente de Barrancos tem senha para o dia; o "nosso" centro de saúde não tem serviço de urgências, mas o "doente urgente que peça consulta" é sempre atendido no próprio dia, quando não no momento; o centro de saúde de Barrancos aceita a marcação de consultas por telefone (incluindo o próprio dia); a renovação de receituário é feita no dia, com a presença do doente ou de familiares; o centro de saúde de Barrancos não faz exames complementares de diagnóstico, mas apoia o doente (ou familiar) na sua marcação.
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O centro de saúde de Barrancos só tem uma médica, mas os doentes de Barrancos têm dois médicos à "sua disposição": dias úteis, das 8h30 às 17h30, e aos fins-de-semana das 14h00 de sábado às 14h00 de domingo. Nesse intervalo, sobra-nos Encinasola, (quase) sempre disponível e o 112 (BVB), com Beja a 110 km, porque Moura é para esquecer...
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A "
saúde" em Barrancos não estará bem. Provavelmente haja falhas, faltas ou lacunas. O alargamento do horário do centro de saúde, pelo menos até às 22 horas, será uma delas; as diferentes interpretações e os constrangimentos sobre o conceito de "
doente esporádico" ou "utente esporádico" (não registado), ainda não resolvidas pelo ministério da saúde, será outra. Um segundo médico(a) para assegurar as faltas por doença e férias da médica residente, idem; etc;. Mas, perguntem aos nossos conterrâneos residentes na zona da grande Lisboa, "
se têm médico de família?" ou "
quanto tempo demoram para ter uma consulta?" ou ainda "
como renovam as receitas?", entre outras, e depois comparemos.
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No texto sobre Barrancos, onde se lê "saúde", poderão também ler "enfermagem" e "fisioterapia". As três valências do centro de saúde local, que estão bem e recomendam-se. Outros serviços de saúde seguissem o exemplo e não seria necessário a recomendação da ERS.
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Numa altura em que continuamos a falar mal dos serviços públicos - porque está na moda ou para justficar a sua extinção -, vale a pena reparar nos bons exemplos.
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extrato do DN on line de 20/06/2014 |