Assim, todos sabemos o
que é a pesca, mas nem todos sabemos o significado que teve e tem para a
humanidade desde os primórdios dos tempos. Desde que há memória, a pesca sempre
fez parte das culturas humanas, fonte de alimento, mas também do modo de vida. É um recurso que satisfaz, não
só as necessidades de alimentação do homem como também as necessidades de lazer
e de recreio sendo, neste capítulo, um dos mais notáveis de todos os desportos.
Leva-nos para junto da natureza proporcionando horas de grande regozijo. Ela é
a captura de animais aquáticos destinados a diversos fins: subsistência, (continua a ser muito importante em todo o mundo); pesca
desportiva, como atrás se diz; negócio;
fabrico de rações para o alimento de
animais; produção de substâncias com interesse para a saúde, com apreensão, feita
nos mares, como por exemplo: (óleo do fígado de bacalhau, muito utilizado em
tempos idos), etc…
Entretanto o homem, com a
sua astúcia, inventa os utensílios necessários para rentabilizar e captar cada
vez mais quantidade de peixes, aperfeiçoando-se paulatinamente com o decorrer
do tempo até aos nossos dias. Hoje com materiais muito sofisticados, existe uma
grande concorrência no domínio da competição à linha. Outrora a pesca com linha
e anzol foi uma das principais formas de aprisionar os peixes. Esta técnica é
utilizada há milhões de anos. Como se depreende, há muitas formas de pescar:
desde as embarcações; passando pelo tresmalho (rede retangular); tarrafa (rede circular);
até à linha, acima citada. Outras formas existem como: linha-de-mão; com mosca;
rede emalhar; ao fundo; etc…
Aqui chegado, importa relatar
um pouco a vida piscatória que foi, em tempos idos e atualmente em Barrancos.
Até as décadas de 60 do
Século XX, como a pobreza teimava em se apoderar dos pobres, tornando-os cada
vez mais paupérrimos, as grandes dificuldades havidas em adquirir trabalho, sem
quaisquer meios para o sustento do agregado, (subsídios do Estado, nem falar), houve alguns trabalhadores, chefes de família,
que, para ganharem o pão de cada dia, se dedicavam, entre outros, a capturar peixes
para vender, pelas ruas e na praça, sobretudo, das ribeiras do Murtega e
Ardila. O barbo, bogas, escalo (bordalo), pardelha, eram os peixes, mais
apetecido pela população. A carpa, predominando, a grande maioria das pessoas
abdicavam delas. Os apetrechos que utilizavam eram primitivos como: tresmalho
ou tarrafa. Havia tio José e irmão António d’Abrio mais conhecido por António
Organisto; tio António Calhaco e filho, André e Tio Zé Sardinheiro, que
abraçaram esta atividade, com muita frequência, havendo, no entanto, outros que
esporadicamente também a praticavam.
No que ao lazer diz
respeito, muitas pessoas, nomeadamente os artífices, com empregos na vila, mais
necessitados de respirar ar campestre, chegado o fim de semana, na Primavera ou
Verão, apanhavam: nos burrinhos, quem os tinha ─ sim, porque carros e
motorizadas só mais tarde, dando lugar aos jumentos ─; nas canas de pesca,
alguns. Porque a maioria eram apanhadas nas margens da Ribeira ou Arroio e aí
vão eles caminho do Ardila e Murtega
uns, e Arroio outros. Sem esquecer os farnéis, porque, às vezes, em vez de apanharem peixes apanhavam um
“Chibato/Grade”, ou cágados. Iam sempre com a esperança de agarrar uns
barbos, bogas ou pardelha, o que viesse. Feita a pescaria, que desta vez foi
boa, são horas de fazer e comer as sopas de peixe (ótimas na ribeira!). Dias de
convívio salutar. E assim passaram fins de semanas, meses e até anos. Parcerias
que ao longo do tempo mantinham uma
amizade saudável.
Mas, curiosamente e de
tantos amantes da pesca existentes, nenhum se empenhou em formar um Clube de
Pesca, proporcionando aos associados momentos de lazer e pesca lúdica. Criando-o,
havia condições para competir entre eles
e outros Clubes da Região, já existentes, como por exemplo: Moura, Reguengos e
outros, projetando esta atividade em particular e o nome de Barrancos em geral,
por outros lugares do mundo.
Porém, o tempo passa, porque não para, e eis que em 1985 um punhado de admiradores da pesca desportiva, já identificados no Contributo do Desporto, constituídos por: José Peres Valério, coordenador; José Venegas Gala; Diogo Assunção Fialho; João Luís Garcia Godinho e Joaquim Ferreira Ferraz, tiveram a iniciativa de criar o Clube Amadores de Pesca Desportiva de Barrancos, cujo emblema foi criado pelo consócio José Baleizão Rico, formando uma comissão administrativa pró-Clube. Formada esta, depararam-se com um obstáculo para legalizá-lo. Era necessária a existência de alguns valores monetários para se proceder ao respetivo registo dos estatutos. Para este fim o grupo arregaça as mangas e promove uns convívios piscatórios e exploração do bar.
De salientar que este grupo não foi recebedor de qualquer ajuda monetária, à exceção das quotizações dos sócios. Apenas os transportes que a Câmara de Barrancos disponibilizou, bem como a instalação, reduzida, cedida pela Junta de Freguesia, foram as ajudas recebidas. Instalação esta que nada tinha a ver, com as atuais, mas era o que existia. De salientar, ainda, que a primeira secretária que houve foram duas caixas de cervejas (vazias) com um estrado em cima. Este era onde o mestre da música se colocava para proceder aos ensaios de banda. Assim, levaram acabo dois anos até que, reunidas as condições necessárias, em 10 de Novembro de 1987, são legalizado os estatutos e criados os primeiros órgãos sociais constituídos por: ASSEMBLEIA GERAL: Presidente, Domingos Branquinho Mondragão; Vice-Presidente, António Manuel Martins Samarro; Secretário, João Ramos Rodrigues. DIRECÇÃO: Presidente, José Peres Valério; Vice-Presidente, José Venegas Gala; Secretário, Diogo d’Assunção Fialho; Tesoureiro, João Luis Garcia Godinho e Vogal, Joaquim Ferreira Ferraz. CONSELHO FISCAL: Presidente, Manuel Alves Alcario; Secretário, Francisco Manuel Escoval Raposo e Relator, Félix Porta Caçador. Nesta data já possuía algumas dezenas de sócios.
Legalizado os Estatutos e
a tomada de posse dos órgãos sociais, a
direção dá início a uma nova etapa e começa a contatar outros clubes da região
e extra região convidando-os a participarem
nos concursos organizados pelo clube, obtendo uma aderência singular. Provas
houve na barragem das mercês que ficaram com a lotação esgotada (156
concorrentes) e recusaram-se mais inscrições. Os prémios atribuídos aos
melhores classificados eram: taças, troféus e outros que com a boa vontade dos
empresários e outros amigos que se dignavam ofertar. Hoje os prémios são de
forma diferente.
Entretanto outros órgãos
sociais se seguiram e com esforços abnegados, nomeadamente das direções, algumas,
prejudicando muitas vezes a sua vida familiar em prol do Clube, têm conseguido perpetuar
até aos dias de hoje, perfazendo 33 anos. Estas direções, umas mais que outras,
criaram inovações fantásticas, desenvolvendo a atividade piscatória, transpondo
o nome de Barrancos além fronteiras. Os associados, pescadores, começam a
participar não só em eventos nacionais como também estrangeiros (Espanha)
tornando-se assim, como é óbvio, pescadores internacionais de pesca à linha.
Concluindo e segundo
informação da Federação Portuguesa de Pesca Desportiva, foi desde a década de 40
do século passado que a pesca desportiva de competição começou a ser praticada
no país.
Aproveito esta curta narrativa para, na qualidade de um dos fundadores, deixar uma palavra de grande apreço, a todos os membros dos órgãos sociais em geral e direções em particular, que passaram por este Clube.
Barrancos, 12/12/20
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