quarta-feira, 18 de março de 2020

Fronteira fechada e/ou não venhas à terra: Onde fica a solidariedade dos barranquenhos?

Por estes dias as redes sociais serão o espelho de uma comunidade? O medo do COVID19, que é uma ameaça real, baralhou até a mente de alguns dos nossos vizinhos que hoje reclamam "fechem a fronteira, já", ou pedem aos familiares e amigos que, "se vens de vez em quando, não venhas  agora à santa terrinha contaminar-nos!" Não era bem assim o pedido, mas o propósito era o mesmo ou mais doloroso!
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Neste momento, os barranquenhos com segunda habitação em Barrancos estão "impedidos de entrar na vila", como se estivessem "contaminados" e a sua presença fosse "destruir a harmonia da terrinha", que deve ter estado enclausurada, donde provavelmente nenhum dos seus residentes tenha contactado com outro ser humano nestes últimos 10/12 dias! O TT (prova de todo o terreno), que juntou mais de 200 pessoas no parque exposições não conta, tal como a "feria de Olivença" que também teve aficionados locais, ou ainda os passeios aos plazas da região (Évora ou Badajoz, por ex.)! Tudo na semana passada. E tudo situações normais. À data.
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Com a fronteira bloqueada, vários conterrâneos, trabalhadores transfronteiriços, ficaram impedidos de se deslocar ao trabalho a partir de ontem. Esta situação, que a decisão de encerramento salvaguarda para nove locais, deverá ser preocupação das entidades locais, tentando sem hesitação reclamar o mesmo tratamento para os membros da nossa comunidade, sem pôr em causa o "controlo de pessoas nas fronteiras no âmbito da situação epidemiológica provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 e da doença COVID-19" (cf. Resolução Conselho de Ministros nº 10-B/2020,  Orden INT/239/2020, de 16/3 e Orden INT/248/2020, de 18/3)
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27 anos depois da abertura da fronteira, que ocorreu às 23h00, de 9 de janeiro de 1993, que tanto ansiámos e pela que gerações lutaram, "exigimos e conseguimos" fechar ontem à tarde a fronteira Barrancos/Encinasola/Barrancos com blocos de cimento bloqueando a estrada, colocados pela CMB, a pedido das autoridades policiais!
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É verdade que estamos numa fase crítica de proteção das comunidades duma pandemia, cujas consequências não se conhecem, e que está a atingir cada vez mais gente. Mas, também, não podemos esquecer que, desde tempos imemoriais, as comunidades da raia sempre se contactaram e entre-ajudaram. A nossa fronteira, que sempre foi muito peculiar, com aberturas sazonais e temporárias, entrou neste momento num processo de retrocesso devido ao estado de emergência sanitária, que esperamos seja breve.
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Com todo este alarmismo, justificado com a preocupação e o desconhecimento sobre a pandemia, uma questão se coloca: Onde fica a solidariedade dos barranquenhos, descendentes daqueles que protegeram e acolheram os refugiados da guerra civil espanhola, que tanto nos tem enchido de orgulho nestes últimos anos?
ponte do barranco de Pedro Miguel - linha de fronteira Barrancos/Encinasola
Foto: Cortesia João Agulhas, 17-03-2020
estrada Barrancos/Encinasola
barrancos de Pedro Miguel - linha de fronteira Barrancos/Encinasola
(Fotos:  eB, 16-10-2018)

3 comentários:

Anónimo disse...

"solidariedade dos barranquenhos"?! Isso já era!!!
Eu estou fora, mas se tiver de voltar, desde que me seja possível, voltarei!!! Se volto é para estar em casa e fazer o que faço onde estou hoje, isolamento! E só volto, desde que tenha "certezas" (dentro do possível), de que não estarei infectado! Ninguém no seu perfeito juízo, voltará a pensar que está doente, porque não será aí que fará qualquer tipo de recuperação ou que usufrua de melhores cuidados médicos.
Quem gostar, gosta, quem não gostar que se arrasque com um pepino!

IANTT disse...

Jacinto: Creo que hoy las personas NO somos tan solidarias como lo fueron nuestros padres y abuelos

IANTT disse...

La apertura de las fronteras no ha traido mas solidaridad a los pueblos de la raia. A mi modesto entender (también al entender de algunos estudiosos) la apertura de la frontera ha permitido mucha mayor movilidad, coches, restaurantes, fiestas, turismo, etc. pero no creo que haya mejorado las relaciones personales de los vecinos entre unos y otros pueblos, y tampoco la solidaridad entre ellos