segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Contributos para a História de Barrancos (XIV) - a Tapa e o tapêu

Mais um excelente contributo de José Peres Valério (texto e fotos):
(...)
Tapa palavra com variadíssimos significados. É uma forma verbal na 3ª pessoa do singular, do presente do indicativo do verbo tapar, que nada tem que ver com o que se passa a descrever.  Esta palavra tem aplicações de tapamentos, ou sapatos, até à culinária. Nesta área, para qualquer Barranquenho a Tapa não é desconhecida, mas certamente ignorada por alguns. Posto isto, passo a relatar o que a história nos diz. Oriunda de Espanha, tinha por finalidade de ser colocada na boca da taça, com bebida, para evitar a entrada de pó. Usavam-se fatia de queijo, presunto ou outras. É um aperitivo servido, desde tempos remotos, nos bares e restaurantes de Espanha para acompanhar as bebidas que, segundo lendas, de conhecimento oral, existem várias hipóteses sobre o aparecimento das Tapas. Um dos mais conhecidos diz que as Tapas surgiram no século XIII durante o reinado de Afonso X de Leão e Castela que, devido a uma doença se viu obrigado, a tomar goles de vinho e, para evitar a embriaguez, comia alguma coisa acompanhando o vinho.  

Outra, conta que os reis católicos obrigaram os taberneiros a servirem, com a taça de vinho ou cerveja, uma Tapa, fria: queijo; presunto; chouriço, o que houvesse.

Uma versão popular mais simples diz que as Tapas surgiram da necessidade dos trabalhadores em adquirir força para seguir trabalhando até a hora do almoço. Essa necessidade era preenchida com a ingestão de um pouco de comida acompanhada por um pouco de vinho. Todavia é antigo o costume espanhol de se comerem pequenas porções de comida para aliviar a fome.

Entretanto, com a expansão por toda a Espanha, este hábito, converteu-se num fenómeno culinário exportado para outros países, nomeadamente: EUA, América Latina e outros, sem esquecer Portugal.

Dada esta pequena introdução passo a narrar o que é a Tapa em Barrancos.

Barrancos, situado na fronteira Leste do país, que desde cedo começou a adquirir costumes e culturas com os povos espanhóis mais próximos, em especial Encinasola por distar 9 Km e, também, ainda que mais distantes, Oliva de la Frontera, Higuera la Real e Fregenal. Tomando aquela lenda, pensa-se que neste intercâmbio a Tapa foi uma das bases da culinária que o povo de Barrancos adquiriu, prevalecendo até os dias de hoje.

Quando, chegado a um café, sociedade, restaurante, hotel e pedir uma taça, um jarro de ¼ litro ─ que predomina ─, ou uma garrafa de vinho, a Tapa, fria ou quente, acompanha sem necessidade de ser pedida, incorporada no custo da bebida. Com a cerveja não há Tapas, mas às vezes, os empresários, põem também amendoins ou outros. É óbvio que com um bom vinho não há melhor acompanhamento do que uma boa Tapa. Quantas vezes pessoas, de passagem por Barrancos, constatando este facto, se interrogam, exclamando: Como é possível! Depois, quando se explica o “fenómeno” responde, a grande maioria, que em nenhuma parte do território nacional se verifica tal prática. De facto não se sabe concretamente  se  em todo o território fronteiriço ou não, se pratica este sistema. Mas por aquilo que se ouve dizer, julga-se que Barrancos será o único ou muito próximo de sê-lo.  

É um sistema implementado desde os primórdios dos tempos.  Uma forma de socialização entre amigos.

Chegado o desejado Domingo, dia de descanso com momentos de descontração depois de uma semana de trabalho árduo, os trabalhadores rurais em especial e alguns artífices, juntavam-se nas tabernas bebendo uns copos de vinho com a boa Tapa.  Daí seguiam para outras, grupos de 6/7 indivíduos, às vezes até mais, entoando as nobres quadras ancestrais alentejanas, que nos transmitem os sentimentos e momentos do quotidiano, pelas ruas até chegarem à taberna mais próxima. E assim prosseguiam por umas quantas, − bebendo uns copos e Tapeando ─ ora numa, ora noutra.

Barrancos sempre teve variadíssimas tabernas que serviam Tapas de excelência. Quais, dos que provaram, não se lembram das pardelhas assadas com coentros, cebola, alho e azeite com que alguns taberneiros, por exemplo: Tio Tomás Tereno, entre outros,  tinham o gosto de nos presentear?

Barrancos, também se preza de ter variadíssimos cantadores do cante alentejano que outrora se elevaram em concursos conquistando alguns 1ºs. lugares. Foi possuidor de dois grupos, qual deles o melhor. Pena que hoje não haja um, que represente a nossa terra por outros mundos.

Entretanto, a título de curiosidade, passo a citar as tabernas, cafés e restaurantes, que recordo, algumas, com nostalgia, desde a década de 50 do século transato: tabernas do tio Zé Grabiel, na Rua da Parra; Tio Manuel Pelador, Rua Jerónimo Vasquez; Zé Fialho (Zacarias), Rua da Igreja; Sociedades Recreativa e Sociedade União, na Praça da Liberdade; A Pipa e Tia Remédio e Café Central, Rua da Praça da Liberdade ; Tio Zé Burgo e Tio João Bergano, conhecido por Joanilho, na Rua S. Sebastião; Tia Vitória, Largo do Altossano; Zé Basso, hoje Restaurante A Esquina, na Rua das Fontainhas;  Manuel Ortega, mais tarde Tio Zé Burgos, tio António Oliveira conhecido por António Bomba, Tio António Nunes/Domingos Fretes, André Taberneira mais tarde José Costa, conhecido por Zelilha, Tio António Currito, Gabriel, Tio Tomás Tereno mais tarde Florindo Carvalho, Manuel Costa, conhecido por Manuel Minhoca, na Rua Forças Armadas; Zé Nunes, Tio António Bergano, conhecido por António Lalo, Sociedade Filarmónica, Tio Zé Mourenho, Tio Mateo, Largo de Montes Claros; Tio Zé Nunes (pai), Zé Nunes (filho), Tio Sequeira, Carlos Mourenho, Restaurante Miradouro, Diogo Pelau, António Lobo, João Cantare, Carlos Durão, mais tarde outros, Tio Carixa e Hotel Agarrocha, Rua 1.º de Dezembro; Manuel Candêo, Rua de Moçambique.

Barrancos, 17 de Janeiro de 2021

ass)José Peres Valério

6 comentários:

Anónimo disse...

Hoje resta um grupo sim senhor, o vozes de barrancos da associação de reformados é um grupo coral famenino mas é um grupo coral que nos enche de orgulho e que não deve ser esquecido nem citado que não existe.

Jacinto Saramago disse...

A/o anónimo(a) das 12h50
O artigo é sobre tapas e tapeu, e, no final, de locais onde se tapeava ou continua a tapear.
O Grupo Coral Feminino Vozes de Barrancos, existe, e só não está mais ativo porque esta pandemia não deixa, mas não é local de tapeu!
cpts

Anónimo disse...

desculpa jacinto sobte o que é o assunto está claro mas no final o autor diz que não há atualemte grupo coral o que não é verdade. e ponto. Agora mata-a como queras

Jacinto Saramago disse...

Tem razão o/a anónimo/a das 15h48.
Onde de diz:
"Barrancos, também se preza de ter variadíssimos cantadores do cante alentejano que outrora se elevaram em concursos conquistando alguns 1ºs. lugares. Foi possuidor de dois grupos, qual deles o melhor. Pena que hoje não haja um, que represente a nossa terra por outros mundos."
..
acho que o autor se refere à inexistência de grupos corais masculinos, e terá omitido, certamente por lapso, a existência do grupo feminino Vozes de Barrancos, que tão bem têm representado Barrancos nas suas mais diversas atuações, pelo pais e estrangeiro,

cpts

Jacinto Saramago disse...

Nota do autor do texto, a propósito do comentário do anónimo/a:
(...)
Bom dia ...
De facto, quando digo "pena que hoje não haja um" estou-me a referir aos grupos corais masculinos que, no tempo, eram os que existiam. Longe vai de mim desprezar o grupo coral feminino a quem muito admiro. Não só pelo empenho demonstrado no percurso da sua existência, levando o nome de Barrancos pelos vários cantos do mundo, como também pela assiduidade demonstrada. De facto induz em erro. Dado os devidos esclarecimentos, peço desculpa pelo sucedido mas, repito, sem qualquer intenção de desconsideração.
José Valério
(...)

IANTT disse...

Boa tarde Jacinto: Me ha gustado mucho el articulo de José Peres Valèrio. Yo soy un amante de las tapas, y efectivamente tal como se describe perfectamente en el articulo es una costumbre muy arraigada en España.

Yo no concibo una copa de vino, si no es acompañada de un aperitivo o una tapa

saludos

Jesús