Barrancos
desde tempos remotos que tem sofrido na carne as agruras da vida, não só pela
escravidão que passou, até aproximadamente a década de 70 do século passado,
nomeadamente 25 de Abril de 1974, como também com as adversidades havidas em
diversas situações, sem esquecer a saúde.
Como
o desejo de todo o ser humano é ter uma assistência médica e medicamentosa
eficaz por forma a ser adquirida em tempo útil, em Barrancos, nesses tempos,
ela era uma gota de água no oceano, tal a disparidade existente com aquelas
vilas e cidades que tudo, ou quase tudo tinham.
Naqueles
tempos, nomeadamente antes de Janeiro de 1960, nem uma maca existia nesta terra
a não ser a que havia no consultório médico para poder transportar um doente
em acidente ou outros casos. Quantas vezes a escada de madeira substituiu a
maca, por não haver outros meios. Ambulância nem sonhar!
Mas, como a população exausta com tamanha necessidade de se adquirir uma ambulância, uma vez que para se deslocar ao hospital de Moura (50 Km) - infelizmente hoje extinto
por força de políticas traçadas por vários governos obrigando ao povo nas horas
más a deslocar-se ao Hospital de Beja que dista de Barrancos 110 Km - pediam
por todos os meios a aquisição da ambicionada ambulância. Estas pessoas, nesse
tempo, quando o médico os mandava para o hospital, não sendo de grande
gravidade, tinham de ir na camioneta da
carreira, que partia de Barrancos às 8h00 e chegavam de regresso às 20h00, os
que podiam, ou a mendigar junto daqueles mais abastados que tinham carro e lhes
fizessem o favor de os transportar até Moura ou Beja. Algumas vezes houve
necessidade de se pedir aos Bombeiros de Moura para prestar serviço de
ambulância.
Entretanto,
o padre Agostinho, director do jornal Luzeiro
(jornal mensal editado pela paróquia de Barrancos), teve o bom senso de lançar
a ideia de dotar esta vila com uma ambulância para transporte de doentes, tendo
obtido um sucesso enorme junto da população de tal forma que cada um contribuiu com a importância que
podia.
Fez-se
jus junto do ministério da saúde que, em 11/12/1959, assinou um despacho atribuindo
a importância de 37 mil escudos (37 contos) à Comissão Municipal de Assistência.
Outros donativos se juntaram a este, através do Governo Civil de Beja com
5.000,00 escudos, e a Junta de Freguesia de Barrancos com 1.000,00 escudos.
Donativos particulares e de outras Instituições, ultrapassavam à data 17.000,00
escudos. O custo da ambulância era de aproximadamente 65.000.00 escudos.
Entretanto,
como era necessário que os seus utilizadores pagassem os transportes cuja norma causou um atrito entre a população, já
por si pobre e sem meios de subsistência, sendo o valor para Moura de 150,00 ou 200,00 escudos
e 900,00 ou 1.200,00 escudos para Lisboa, impedindo muita gente de suportar
tais despesas. Depois de se debater a situação, optou-se pela criação de uma
Comissão Organizadora que se encarregou de elaborar os Estatutos Provisórios do
que ficaria conhecido como Mutualidade
Barranquense, passando os sócios
a pagar uma quota mínima mensal de 1 escudo, para aqueles mais pobres, e uma
quota voluntária (superior) para os que tivessem mais posse. Em Maio de 1960
já estavam inscritos 1238 associados, sendo muitos deles benfeitores e, a partir do dia 15/5/1960, a
maior parte da população de Barrancos ficou coberto das despesas a fazer com os
transporte em ambulância. Mais tarde, o
valor das quotas passou de 1 escudo para 2,50 escudos, e 3,50 escudos num curto
espaço de tempo, sendo cobradores o José Baleizão (conhecido como cauteleiro), o
José Laranjinha, que possuía a farmácia, e o José Bergano Marques (Zé Santos)
que fez 15 anos de cobrança.
Durante
o ano de 1960 a Mutualidade foi gerida pelos associados: Francisco Pica Mendes,
Clemente Pires Marques, José Delgado D’Abrio, Mário Francisco Fernandes Escoval
e Pe. Agostinho Antunes dos Santos.
Entretanto
ambulância já havia uma Wolkswagem e mais tarde uma Simca. Faltava o/ou condutores para conduzi-la. Esta última
ambulância transitou para os BVB, e ainda esteve ao serviço deste durante alguns anos.
Combinaram
entre os encartados, e o que tivesse disponibilidade, transportava o doente para
o Hospital enviado pelo médico da terra. Entre eles foram: Sr. Padre Agostinho,
(quem mais conduziu), o José Rúbio, o João Augusto, e o Francisco Mendes, entre
outros cujos nomes não possuo ou não recordo.
Esta
situação se arrastou até, aproximadamente, à fundação da Associação dos
Bombeiros Voluntários de Barrancos, em 10 de Janeiro de 1980, coordenada pelo
António Semedo Guerra.
Barrancos,
14 de Janeiro de 2020
Ass) José Peres Valério
Ass) José Peres Valério
Foto1) - Estatutos provisórios da Mutualidade Barranquense, in Luzeiro, nº 12, de 06/04/1960 |
Foto2) - Ambulância Simca, 1200, modelo semelhante ao da Mutualidade Barranquense, que transitou para os BVB (Foto: SERAM, SL) |
Foto3) - Ambulância VW, 1954, modelo da primeira ambulância de Barrancos (Foto: daqui) |
1 comentário:
Aportacion muy interesante para la reciente historia de Barrancos
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