quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Contributos para a História de Barrancos (VI) – a Mutualidade Barranquense – Ambulância

Barrancos desde tempos remotos que tem sofrido na carne as agruras da vida, não só pela escravidão que passou, até aproximadamente a década de 70 do século passado, nomeadamente 25 de Abril de 1974, como também com as adversidades havidas em diversas situações, sem esquecer a saúde.
Como o desejo de todo o ser humano é ter uma assistência médica e medicamentosa eficaz por forma a ser adquirida em tempo útil, em Barrancos, nesses tempos, ela era uma gota de água no oceano, tal a disparidade existente com aquelas vilas e cidades que tudo, ou quase tudo tinham.
Naqueles tempos, nomeadamente antes de Janeiro de 1960, nem uma maca existia nesta terra a não ser a que havia no consultório médico para poder transportar um doente em acidente ou outros casos. Quantas vezes a escada de madeira substituiu a maca, por não haver outros meios. Ambulância nem sonhar!
Mas, como a população exausta com tamanha necessidade de se adquirir uma ambulância, uma vez que para se deslocar ao hospital de Moura (50 Km) - infelizmente hoje extinto por força de políticas traçadas por vários governos obrigando ao povo nas horas más a deslocar-se ao Hospital de Beja que dista de Barrancos 110 Km - pediam por todos os meios a aquisição da ambicionada ambulância. Estas pessoas, nesse tempo, quando o médico os mandava para o hospital, não sendo de grande gravidade, tinham de  ir na camioneta da carreira, que partia de Barrancos às 8h00 e chegavam de regresso às 20h00, os que podiam, ou a mendigar junto daqueles mais abastados que tinham carro e lhes fizessem o favor de os transportar até Moura ou Beja. Algumas vezes houve necessidade de se pedir aos Bombeiros de Moura para prestar serviço de ambulância.
Entretanto, o padre Agostinho, director do jornal Luzeiro (jornal mensal editado pela paróquia de Barrancos), teve o bom senso de lançar a ideia de dotar esta vila com uma ambulância para transporte de doentes, tendo obtido um sucesso enorme junto da população de tal forma  que cada um contribuiu com a importância que podia.
Fez-se jus junto do ministério da saúde que, em 11/12/1959, assinou um despacho atribuindo a importância de 37 mil escudos (37 contos) à Comissão Municipal de Assistência. Outros donativos se juntaram a este, através do Governo Civil de Beja com 5.000,00 escudos, e a Junta de Freguesia de Barrancos com 1.000,00 escudos. Donativos particulares e de outras Instituições, ultrapassavam à data 17.000,00 escudos. O custo da ambulância era de aproximadamente 65.000.00 escudos.
Entretanto, como era necessário que os seus utilizadores pagassem os transportes cuja  norma causou um atrito entre a população, já por si pobre e sem meios de subsistência, sendo o  valor para Moura de 150,00 ou 200,00 escudos e 900,00 ou 1.200,00 escudos para Lisboa, impedindo muita gente de suportar tais despesas. Depois de se debater a situação, optou-se pela criação de uma Comissão Organizadora que se encarregou de elaborar os Estatutos Provisórios do que ficaria conhecido como Mutualidade  Barranquense,  passando os sócios a pagar uma quota mínima mensal de 1 escudo, para aqueles mais pobres, e uma quota voluntária (superior) para os que tivessem mais posse. Em Maio de 1960 já estavam inscritos 1238 associados, sendo muitos deles benfeitores e, a partir do dia 15/5/1960, a maior parte da população de Barrancos ficou coberto das despesas a fazer com os transporte em ambulância.  Mais tarde, o valor das quotas passou de 1 escudo para 2,50 escudos, e 3,50 escudos num curto espaço de tempo, sendo cobradores o José Baleizão (conhecido como cauteleiro), o José Laranjinha, que possuía a farmácia, e o José Bergano Marques (Zé Santos) que fez 15 anos de cobrança.
Durante o ano de 1960 a Mutualidade foi gerida pelos associados: Francisco Pica Mendes, Clemente Pires Marques, José Delgado D’Abrio, Mário Francisco Fernandes Escoval e Pe. Agostinho Antunes dos Santos.
Entretanto ambulância já havia uma Wolkswagem e mais tarde uma Simca. Faltava o/ou  condutores para conduzi-la. Esta última ambulância transitou para os BVB, e ainda esteve ao serviço deste durante alguns anos.
Combinaram entre os encartados, e o que tivesse disponibilidade, transportava o doente para o Hospital enviado pelo médico da terra. Entre eles foram: Sr. Padre Agostinho, (quem mais conduziu), o José Rúbio, o João Augusto, e o Francisco Mendes, entre outros cujos nomes não possuo ou não recordo.
Esta situação se arrastou até, aproximadamente, à fundação da Associação dos Bombeiros Voluntários de Barrancos, em 10 de Janeiro de 1980, coordenada pelo António Semedo Guerra.
Barrancos, 14 de Janeiro de 2020
Ass) José Peres Valério
Foto1) - Estatutos provisórios da Mutualidade Barranquense, in Luzeiro, nº 12, de 06/04/1960
Foto2) - Ambulância Simca, 1200, modelo semelhante ao da Mutualidade Barranquense,
que transitou para os BVB
(Foto: SERAM, SL)
Foto3) - Ambulância VW, 1954, modelo da primeira ambulância de Barrancos
(Foto: daqui)

1 comentário:

IANTT disse...

Aportacion muy interesante para la reciente historia de Barrancos