(...)
"Antes
de me debruçar sobre o mel produzido em Barrancos, faço uma introdução, do que a
história nos diz, sobre as abelhas melíferas (Ápis mellífera).
A
função principal, ou mais explorada, delas é a polinização. O seu desempenho é terminante,
visto ter-se descoberto que cerca de 2% das abelhas selvagens do planeta são responsável
pela polinização de 80% das culturas mundial. Isto revela que sem abelhas não
haveria frutos e vegetais, inseparáveis a alimentação do homem, herbívoro e carnívoros,
destruindo a agricultura e a indústria. A importância para o ecossistema é
notória: sem abelhas seria o fim. Toda a cadeia alimentar sofreria e os animais
morreriam, (Fonte: National Geographic).
A
formação do mel está relacionada com o processo de polinização das flores que
proporcionam uma alteração aromática. Dentre os variadíssimos insetos atraídos,
temos as abelhas, que sugam o néctar da flor. Durante o transporte, diversas
secreções são acrescentadas ao néctar, depositando-o em favos onde perderá
grande parte da sua água e se transformando em mel. Existem dezenas de
variedades de mel, que se obtém, segundo a floração existente, num raio de ação
de 3 Km de distância de suas colónias. O mel monofloral (de uma única flor), é
considerado melhor e plurifloral (de várias flores). Muitas pessoas se
interrogam quando vêm o mel cristalizado: Será bom ou mau? Especialistas
afirmam que quando cristaliza, é a forma da sua qualidade e da sua pureza. É um
importante complemento à alimentação humana. (Fonte: Wikipédia-Enciclopédia
livre).
Desde
tempos ancestrais, o mel foi utilizado como alimento pelo homem, obtido
inicialmente de forma primitiva. Muitas vezes, de maneira danosa às colmeias
feitas em troncos e ramos de árvores, rochas, paredes, buracos no solo, etc.
Porém, muito deste mel não era aproveitado pelo homem. Com o correr dos
séculos, aprendeu a capturar enxames e colocá-los em colmeias artificiais. Com
o desenvolvimento das técnicas que através do tempo foi inventando, conseguiu
aumentar a produção e extraí-lo sem danificar a colmeia.
Além
do mel, podem obter-se diversos produtos: pólen apícola; pão de abelha;
própolis; geleia real e cera. No uso medicinal sempre foi reconhecido devido às
suas propriedades terapêuticas. Além do alto valor energético, é um alimento
rico em substâncias benéficas ao
equilíbrio
do nosso organismo, como: vitaminas, minerais e aminoácidos. A própolis é um
produto com fortes propriedades de cicatrização de feridas e efeitos:
antibacterianos; anti-inflamatórios; antifúngicos e antivirais. Também usada na
fabricação de cremes, pomadas e cosméticos, bebidas (ex. hidromel). As abelhas
melíferas vivem socialmente em colónias, organizadas em colmeias, existindo
apenas uma rainha, única fêmea fértil, (fecundada por zangões) responsáveis
pela postura dos ovos. As restantes são operárias, fêmeas inférteis responsável
por todo o trabalho da colmeia. Têm uma esperança de vida de vários anos. São
dos insetos mais sensíveis às alterações climáticas.
Há uma grande preocupação com a diminuição das
populações, principalmente na Europa e América. Razões para esta quebra
incluem: agricultura intensiva, uso de pesticidas, poluição, doenças, varroas e
outros ácaros que as definham, uso de culturas geneticamente modificadas e
extensas áreas de cultivo de uma única cultura, vespas asiáticas, grandes predadoras, o ratel
(texugo-do-mel) e aves, como os abelharucos (Fonte: National Geographic).
Para
os nativos das Américas, o mel e a cera produzida pelas abelhas sempre foram de
extrema importância. O mel era consumido ao natural ou para adoçar outros
alimentos. A cera era usada na vedação de utensílios como: cola, polimento,
lubrificação de artefactos e na iluminação.
Chegado
aqui, cabe-me relatar algo do que foi ─ e é ─ em Barrancos a apicultura. Esta
atividade remonta a milhares de anos. As
colmeias: normalmente usam-se as colmeias
tradicionais e as caixas. Ambas
feitas pelo homem, mas a tradicional é totalmente artesanal sem espaço
padronizado ─ o cortiço − como o nome indica, feito de cortiça, com
formatação cilíndrica. No interior existe as trancas ou cruzetas (varas de
estevas, normalmente duas ou tês, que suportam o peso dos favos carregados de
mel) Ainda hoje utilizado por muitos apicultores. Sendo a função do apicultor
cuidar bem da colmeia (para que esteja sempre saudável e produtiva),
desenvolveu as caixas, mais modernas, a partir de pesquisas cientificas, para
melhorar as condições das abelhas e da produção. Outras formas existiam em outros
locais.
Em
tempos remotos, Barrancos tinha muita gente que vivia no campo: pastores e
trabalhadores em outros fins, etc. Na Primavera, época da saída dos enxames de
vários apiários, muita desta gente capturava-os conseguindo formar uma ou
várias colmeias e, chegado o tempo, extraíam o apreciado néctar para todo o ano.
Outros, vivendo na vila, também apanhavam os enxames tresmalhado pondo-os em
cortiços ou caixas na periferia da vila ou em apiários já existente. Pequenos
agricultores possuíam apiários com bastantes colmeias em cortiço, o mais usado
até o aparecimento das caixas em madeira. Os falecidos: padre Agostinho Antunes
dos Santos e José Leal Pinto (grandes apicultores na década de 1950 ou 60), padronizaram
este sistema, mais produtivo, dando azo a que outros apicultores seguissem o
mesmo caminho, até aos nossos dias. Há no tempo que corre, muito mais interesse
na incrementação desta atividade, economicamente mais rentável, que naquela
época. Todavia, que se saiba não existe nenhum apicultor em Barrancos que
extraia outros produtos acima citados, a
não ser o mel. Nem existe a pratica da transumância ou apicultura migratória (deslocamento
das colmeias de um local para outro distante, durante a floração). No fim retiram-nas
para o local de origem ou para outro local.
Chegada
a época da colheita, estes apicultores, não profissionais, deparavam muitas
vezes com uma safra que as abelhas produziam em quantidade excedente,
considerando o consumo anual familiar. Que fazer com o remanescente? Era
vendido através de comerciantes que se deslocavam e deslocam para Barrancos na
compra do apetitoso néctar. Uma forma de arrecadar uns tortões para adicionar
ao magro orçamento familiar. Porém, há alguns apicultores que o vendem em
frascos de meio quilo ou quilo.
Pergunta
dos leitores menos esclarecidos: como é extraído o mel?
1 ─
Os favos no cortiço eram e são
tirados e espremido à mão, obtendo-se o mel e a cera. A cera deixada da
espremedura era fervida em água obtendo-se a água-mel, muito apreciada na nossa terra. A espuma
resultante dessa fervedura era utilizada por muita gente na alimentação,
untando-a no pão. Esta operação era muito trabalhosa e dispendiosa com o
consumo de lenha ou gás. A cera não utilizada com este fim era tratada e
prensada em finas folhas que, através de máquina especializada, são gravados
hexágonos onde as abelhas constroem os alvéolos usados para reprodução ou para
depositar o mel. Esta cera é colada aos arames existente nos quadros novos, através
de um dispositivo aquecido. Ou comercializada. Tem variadíssima aplicações.
2 −
Os quadros tirados das caixas, que se encontram em cima do ninho (colmeia), são
colocados num extrator manual ou centrifugadora elétrica. Extraído o mel, ficam
os quadros apenas com a cera que será reposta na caixa, e colocada novamente na
colmeia. Esta cera e a dos novos quadros é trabalhada pelos laboriosos insetos,
formando os alvéolos, como atrás se diz, para reprodução ou armazenamento do
mel. Nos dias de hoje existem equipamentos mais sofisticado que, julgo, em
Barrancos não os há.
Toda
esta atividade é feita com vestuário especifico acompanhado do fumigador, fole (dispositivo
com função de produzir fumaça para evitar picadas das abelhas).
Terminada
a safra, o belíssimo néctar produzido em Barrancos, está disponível para ser
consumido e comercializado pelos apicultores.
Ass) José Peres Valério"
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