terça-feira, 26 de outubro de 2021

Contributos para a História de Barrancos (XXI) - o mel

Publicamos hoje, com a autorização do seu autor, José Valério, o contributo XXI para a História de Barrancos, neste caso, sobre o Mel.
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"Antes de me debruçar sobre o mel produzido em Barrancos, faço uma introdução, do que a história nos diz, sobre as abelhas melíferas (Ápis mellífera).

A função principal, ou mais explorada, delas é a polinização. O seu desempenho é terminante, visto ter-se descoberto que cerca de 2% das abelhas selvagens do planeta são responsável pela polinização de 80% das culturas mundial. Isto revela que sem abelhas não haveria frutos e vegetais, inseparáveis a alimentação do homem, herbívoro e carnívoros, destruindo a agricultura e a indústria. A importância para o ecossistema é notória: sem abelhas seria o fim. Toda a cadeia alimentar sofreria e os animais morreriam, (Fonte: National Geographic).

A formação do mel está relacionada com o processo de polinização das flores que proporcionam uma alteração aromática. Dentre os variadíssimos insetos atraídos, temos as abelhas, que sugam o néctar da flor. Durante o transporte, diversas secreções são acrescentadas ao néctar, depositando-o em favos onde perderá grande parte da sua água e se transformando em mel. Existem dezenas de variedades de mel, que se obtém, segundo a floração existente, num raio de ação de 3 Km de distância de suas colónias. O mel monofloral (de uma única flor), é considerado melhor e plurifloral (de várias flores). Muitas pessoas se interrogam quando vêm o mel cristalizado: Será bom ou mau? Especialistas afirmam que quando cristaliza, é a forma da sua qualidade e da sua pureza. É um importante complemento à alimentação humana. (Fonte: Wikipédia-Enciclopédia livre).

Desde tempos ancestrais, o mel foi utilizado como alimento pelo homem, obtido inicialmente de forma primitiva. Muitas vezes, de maneira danosa às colmeias feitas em troncos e ramos de árvores, rochas, paredes, buracos no solo, etc. Porém, muito deste mel não era aproveitado pelo homem. Com o correr dos séculos, aprendeu a capturar enxames e colocá-los em colmeias artificiais. Com o desenvolvimento das técnicas que através do tempo foi inventando, conseguiu aumentar a produção e extraí-lo sem danificar a colmeia.

Além do mel, podem obter-se diversos produtos: pólen apícola; pão de abelha; própolis; geleia real e cera. No uso medicinal sempre foi reconhecido devido às suas propriedades terapêuticas. Além do alto valor energético, é um alimento rico em substâncias benéficas ao equilíbrio do nosso organismo, como: vitaminas, minerais e aminoácidos. A própolis é um produto com fortes propriedades de cicatrização de feridas e efeitos: antibacterianos; anti-inflamatórios; antifúngicos e antivirais. Também usada na fabricação de cremes, pomadas e cosméticos, bebidas (ex. hidromel). As abelhas melíferas vivem socialmente em colónias, organizadas em colmeias, existindo apenas uma rainha, única fêmea fértil, (fecundada por zangões) responsáveis pela postura dos ovos. As restantes são operárias, fêmeas inférteis responsável por todo o trabalho da colmeia. Têm uma esperança de vida de vários anos. São dos insetos mais sensíveis às alterações climáticas.

Há uma grande preocupação com a diminuição das populações, principalmente na Europa e América. Razões para esta quebra incluem: agricultura intensiva, uso de pesticidas, poluição, doenças, varroas e outros ácaros que as definham, uso de culturas geneticamente modificadas e extensas áreas de cultivo de uma única cultura,  vespas asiáticas, grandes predadoras, o ratel (texugo-do-mel) e aves, como os abelharucos (Fonte: National Geographic).

Para os nativos das Américas, o mel e a cera produzida pelas abelhas sempre foram de extrema importância. O mel era consumido ao natural ou para adoçar outros alimentos. A cera era usada na vedação de utensílios como: cola, polimento, lubrificação de artefactos e na iluminação.  

Chegado aqui, cabe-me relatar algo do que foi ─ e é ─ em Barrancos a apicultura. Esta atividade remonta a milhares de anos. As colmeias: normalmente usam-se as colmeias tradicionais e as caixas. Ambas feitas pelo homem, mas a tradicional é totalmente artesanal sem espaço padronizado ─ o cortiço  − como o nome indica, feito de cortiça, com formatação cilíndrica. No interior existe as trancas ou cruzetas (varas de estevas, normalmente duas ou tês, que suportam o peso dos favos carregados de mel) Ainda hoje utilizado por muitos apicultores. Sendo a função do apicultor cuidar bem da colmeia (para que esteja sempre saudável e produtiva), desenvolveu as caixas, mais modernas, a partir de pesquisas cientificas, para melhorar as condições das abelhas e da produção. Outras formas existiam em outros locais.

Em tempos remotos, Barrancos tinha muita gente que vivia no campo: pastores e trabalhadores em outros fins, etc. Na Primavera, época da saída dos enxames de vários apiários, muita desta gente capturava-os conseguindo formar uma ou várias colmeias e, chegado o tempo, extraíam o apreciado néctar para todo o ano. Outros, vivendo na vila, também apanhavam os enxames tresmalhado pondo-os em cortiços ou caixas na periferia da vila ou em apiários já existente. Pequenos agricultores possuíam apiários com bastantes colmeias em cortiço, o mais usado até o aparecimento das caixas em madeira. Os falecidos: padre Agostinho Antunes dos Santos e José Leal Pinto (grandes apicultores na década de 1950 ou 60), padronizaram este sistema, mais produtivo, dando azo a que outros apicultores seguissem o mesmo caminho, até aos nossos dias. Há no tempo que corre, muito mais interesse na incrementação desta atividade, economicamente mais rentável, que naquela época. Todavia, que se saiba não existe nenhum apicultor em Barrancos que extraia outros produtos  acima citados, a não ser o mel. Nem existe a pratica da transumância ou apicultura migratória (deslocamento das colmeias de um local para outro distante, durante a floração). No fim retiram-nas para o local de origem ou para outro local.

Chegada a época da colheita, estes apicultores, não profissionais, deparavam muitas vezes com uma safra que as abelhas produziam em quantidade excedente, considerando o consumo anual familiar. Que fazer com o remanescente? Era vendido através de comerciantes que se deslocavam e deslocam para Barrancos na compra do apetitoso néctar. Uma forma de arrecadar uns tortões para adicionar ao magro orçamento familiar. Porém, há alguns apicultores que o vendem em frascos de meio quilo ou quilo.

Pergunta dos leitores menos esclarecidos: como é extraído o mel?

1 ─ Os favos no cortiço eram e são tirados e espremido à mão, obtendo-se o mel e a cera. A cera deixada da espremedura era fervida em água obtendo-se a água-mel, muito apreciada na nossa terra. A espuma resultante dessa fervedura era utilizada por muita gente na alimentação, untando-a no pão. Esta operação era muito trabalhosa e dispendiosa com o consumo de lenha ou gás. A cera não utilizada com este fim era tratada e prensada em finas folhas que, através de máquina especializada, são gravados hexágonos onde as abelhas constroem os alvéolos usados para reprodução ou para depositar o mel. Esta cera é colada aos arames existente nos quadros novos, através de um dispositivo aquecido. Ou comercializada. Tem variadíssima aplicações.

2 − Os quadros tirados das caixas, que se encontram em cima do ninho (colmeia), são colocados num extrator manual ou centrifugadora elétrica. Extraído o mel, ficam os quadros apenas com a cera que será reposta na caixa, e colocada novamente na colmeia. Esta cera e a dos novos quadros é trabalhada pelos laboriosos insetos, formando os alvéolos, como atrás se diz, para reprodução ou armazenamento do mel. Nos dias de hoje existem equipamentos mais sofisticado que, julgo, em Barrancos não os há.

Toda esta atividade é feita com vestuário especifico acompanhado do fumigador, fole (dispositivo com função de produzir fumaça para evitar picadas das abelhas).

Terminada a safra, o belíssimo néctar produzido em Barrancos, está disponível para ser consumido e comercializado pelos apicultores.

Barrancos, 25 de Outubro de 2021
Ass) José Peres Valério"
Fotos: Wikipédia, a enciclopédia livre, visualizadas em 15/10/2021, 
por José Peres Valério

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