terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A normalização linguística do barranquenho - como e'hcrebê o que falãm'u?

Caro letõ, a língua na que mê ehtá a lê, o Barranquenho, foi declarada “Património Culturá de Interesse Municipá” pela Assemblêa Municipá de Barrancos, em 24 de junho de 2008.
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O barranquenho poderá vir a ter uma convenção ortográfica para normalização linguística a exemplo do que sucedeu com o mirandês, para escrever o que diariamente falamos em Barrancos.
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O seminário sobre História e Línguas: Interfaces, promovido pela Universidade de Évora no passado dia 4, debateu o barranquenho (dialeto, fala, língua) enquanto património imaterial que poderá merecer proteção internacional. No primeiro painel, dedicado ao Património Imaterial: Língua e Tradição, as docentes universitárias Maria Filomena Gonçalves e Ana Paula Banza contextualizaram historicamente o Barranquenho. Para estas investigadoras do CIDEHUS, a decisão do Município de Barrancos de 24 de junho de 2008, de considerar o dialeto barranquenho “património cultural imaterial de interesse municipal, foi um passo importante para uma eventual classificação nacional, prioridade que depende do domínio da politica (da língua) e não tanto de questões de linguística.
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Entre os conferencistas, Vitor Correia era aquele que mais expetativas despertava entre o grupo dos barranquenhos que marcaram presença no seminário, com a comunicação "As fontes históricas e a elaboração de uma proposta de Convenção Ortográfica para o Barranquenho", que constitui o seu projeto de doutoramento. Logo no início, o próprio justificou o objeto de estudo como "um desafio muito difícil, dada a complexidade do tema e as suas implicações ao nível da linguística, cujos resultados podem surpreender (ou chocar) com a sonoridade duma língua de tradição oral". É natural que a uniformização duma escrita possa causar perplexidades, dado os vários registos do barranquenho (falado). O barraquenho, enquanto comunidade, terá de perceber que uma coisa é a sua fala/língua, que continuará a ser o que sempre foi e outra coisa distinta será a sua passagem ortográfica, assunto que sempre foi e será polémico. Aqui haverá, certamente, divergências entre cientistas e falantes.
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A arqueologização da língua barranquenha chegou a ser alvitrada entre o público, num outro contexto, mas a sua preservação, manutenção e continuidade depende da comunidade de falantes, da consciencialização da sua importância enquanto veículo de comunicação e de transmissão de saberes. Só se arqueologiza o que deixou de ser natural.  O barranquenho, ao contrário do Mirandês, só se manteve e contínua na oralidade, que tem que ver com a lógica cultural e do isolamento, de resistência e de comunicação endógena.
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Do debate, para além da polemização em torno da dualidade escrever vs falar, que pode suscitar surgiu uma certeza: a classificação do barranquenho como língua depende sobretudo de decisões de política linguística, influenciada por estudos, por investigadores e pela sua comunidade de falantes, incluindo os dirigentes políticos locais.
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Entretanto, soube-se também que a Universidade de Évora, no âmbito cátedra Património Imaterial e Tradições Locais, atribuída recentemente pela UNESCO, vai privilegiar o estudo desta temática, com especial destaque para o barranquenho, que pode criar as bases para a convenção ortográfica (normalização) e de um eventual dicionário Barranquenho/Português/Barranquenho.
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(Chegado aqui, remeto o leitor novamente para o parágrafo inicial deste texto, escrito em barranquenho, o meu barranquenho! Provavelmente diferente do teu/seu porque, a não haver regras, cada um escreve como bem entender! Será assim que queremos continuar?)
Na mesa: Vitor Correia, Filomena Gonçalves, Teresa Simão e Márcio Undulo.
 Foto: eB, 04-12-2013

2 comentários:

romcadur disse...

Acredito que há necessidade de normalizar este dialeto.
Mesmo que haja quem diga o contrario. São os jovens quem mais fala em destes os mais letrado, o fazer de uma forma natural principalmente quando se encontram na vila.
Não se pode impedir por decreto o que trazemos no ADN a herança deixadas pelos nossos avós, são a nossa identidade e das que devemos ter orgulho.
Falamos portugues, espanhol, barranquenho, alguns falam mesmo ingles, frances, alemão enfim um povo poliglota.
Bamo a bê si entendem

IANTT disse...

Asunto dificil y complejo. Las autoridades deben adoptar decisiones a fin de preservar el habla, pero mucho me temo que en un plazo corto de tiempo con la juventud actual y lo que llamamos globalizacion se puedan perder estas raices que parece se han podido mantener debido al aislamiento que ha sufrido la población durante siglos.

INATT- Jesús