quinta-feira, 25 de julho de 2019

Subsídios para a História de Barrancos - um testemunho pessoal de Homenagem às Lavadeiras

Quem, barranquenho ou não, ainda se lembra das Lavadeiras? Sim. Aqueles que, antes da década de quarenta e até à década de oitenta (séc XX), calcorreavam caminhos velhos, estradas, etc. certamente se lembrarão.
Quem não se lembra de, nas décadas citadas, das agruras que a vida lhes exigia?
Quem não se lembra das dificuldades que estas mulheres, avós, mães ou filhas, passaram?
Nos dias de hoje poucos certamente se lembram, porque a grande maioria que acompanharam o percurso da vida destas mulheres, assim como Elas próprias, já não se encontram entre nós, deixando-nos apenas e só o testemunho daquilo que sofreram. É constrangedor tudo aquilo que elas passaram.
Eram à volta de uma dezena as mulheres que lavavam a roupa daqueles mais privilegiados, bem como de guardinhas (guardas-republicanos e guardas fiscais), e de alguns funcionários públicos. Logo de madrugada saltavam da cama, deixavam os filhos com familiares, aquelas que podiam, e os restantes levavam-nos com elas, umas para o arroio, outras para a ribeira e outras ainda para a Pipa. Com os cestos de roupa à cabeça, a maioria, outras de burro ou qualquer outro meio que lhes poupassem o esforço que iriam desempenhar no trabalho que as esperava, aguentavam calor ou chuva e geada, que às vezes parecia que tinha nevado. Com os filhos pequenos presos a uma aldefa para evitar quedas por vezes graves, continuavam a sua lavagem de quase um dia, porque o tempo urge e não se pode perder.
Saíam de casa ao nascer-do-sol, ou antes, e regressavam noite adentro, aguentando todas as intempéries para ganhar umas migalhas para dar de comer aos seus filhos. Não obstante todo este trabalho, ainda tinham que passar a ferro a roupa que traziam lavada, para as entregar aos seus possuidores - clientes era termo ainda não conhecido. 
Quanto à alimentação, podemos dizer que estavam subnutridas, quantas vezes o almoço era um naco de pão com uma sardinha assada e um bocado de toucinho, porque o chouriço só cheirado na loja. O quartilho de café, este sim, estava sempre à roda do lume, para de vez em quando aquecer a tripa.
Gente de coragem, gente que não regateava nada para, chegando à noite, ter uma sopa para pôr à frente dos seus familiares. Quantas vezes, muitas delas, eram o único sustento da família, porque marido e filhos, capazes de trabalhar, não tinham trabalho para poder ajudá-las! 
Não foi fácil! Quantas vezes, por exemplo, queriam acender o lume para fazer a barrela (ferver a água e misturar a cinza para dar mais brancura a roupa) e não o conseguiam no tempo do inverno, sacrificando-se com tentativas uma atrás de outras, porque a lenha estava encharcada ou as mãos trémulas de frio!?
Por força desta situação, quantos e quantas foram obrigados a emigrar desta terra a procurar melhores dias!
Estas mulheres são dignas de não serem esquecidas. Não as podemos esquecer! Sei que para as camadas jovens estas palavras não terão significado algum, mas estou convencido que nem todos olham dessa forma, porque alguns tiveram os pais, ou avós ou outros familiares, que certamente compreenderam o que estas Mulheres passaram e enfrentaram naquele tempo.
Daqui lhes dirijo a minha sincera Homenagem para todas Elas. Onde quer que estejam, há sempre alguém que não as esquece.
Barrancos, 25 de Julho de 2019 - ass) José Peres Valério
(na falta de fotos de lavadeiras de Barrancos, para ilustrar o texto, recorremos
à internet - fotos: daqui)

2 comentários:

Anónimo disse...

Lindo texto e bonita homenagem a estas grandes senhoras. As minhas avós faziam parte delas.
Cumprimentos.

IANTT disse...

Bonito texto, y mi mas sincero reconocimiento a estas mujeres

No se les desbe olvidar, eto si son mujeres coraje.

saludos

Jesús