quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

"Somos responsáveis pela herança que deixamos aos nossos meninos”

"Ana Maria Ramos, de 43 anos, natural do Barreiro, e Eva Garcia, de 10 anos, nascida em Beja, aluna do 4.º ano de escolaridade, mãe e filha, ambas vivendo em Barrancos, escreveram “a quatro mãos” um livro para crianças. As ilustrações são do artista barranquenho Zandre, marido e pai das autoras, falecido há pouco. A obra, Triste feijão frade descobre a alegria, editada pelas Letras Paralelas, foi apresentada em Barrancos pelo presidente da câmara, João Serranito Nunes, numa sessão que também homenageou Zandre.
Foi a Letras Paralelas, editora de Lisboa, que acreditou e apostou nesta obra. Conta Ana Maria Ramos: “Triste feijão frade descobre a alegria é um livro dirigido às crianças, ao seu mundo, às suas relações interpessoais: são, de algum modo, elas próprias. São legumes a falar num mundo fantasiado onde vivem em amizade. O Fradito triste, personagem principal da história, teve alguém que se apercebeu do porquê do seu sofrimento. Deu-lhe a mão e fê-lo descobrir o seu valor em alegria, descobrindo que também ele era importante, na terra, nos hábitos de uma alimentação que se deseja saudável”.
O livro foi um projeto a três…
Sim, é um projeto, a três, carregado por um forte simbolismo – abraça a arte de Zandre que, na altura, já não o tínhamos connosco. É uma homenagem que, com a nossa filha Eva, fazemos ao pai querido e companheiro de uma vida. Esta ideia de editar um livro surgiu muito por acaso. Ao revolver as gavetas onde guardo os desenhos do Zandre, reencontrei-os e tive um sentimento de nostalgia. Senti desde logo o apelo de que era preciso estes desenhos saírem do esquecimento. Contactei o dr. Rui Pereira, grande amigo de Zandre, para saber o que fazer. (…) Ao conhecer as ilustrações, ficou deliciado com elas. O desafio foi lançado para que eu e a Eva escrevêssemos uma história em torno daquelas imagens mágicas. Na altura pareceu-me uma proposta de loucos, pois não sou escritora, mas a ideia ficou a remoer na cabeça. A Eva e eu falámos, olhámos os desenhos e de repente começámos a encontrar-lhes um sentido. Os nomes dos personagens foram surgindo e sem querer estávamos novamente com o pai, a nossa felicidade. A história começou a fluir e acreditámos que éramos capazes. Os leitores o dirão, é claro! (…) O município barranquenho está empenhado em honrar a memória deste filho de Barrancos, referência no mundo das artes. Este é o primeiro passo no caminho de um outro sonho que é, a curto prazo, vir a nascer a casa das artes em Barrancos com o nome do mestre Zandre. Uma casa que dê a conhecer e preserve a obra do autor e seja ao mesmo tempo um espaço vivo e dinâmico, onde acontecimentos culturais pelas artes sejam uma realidade.
De que fala, no essencial, o livro?
A amizade, o respeito pelo outro são aqui cultivados. É talvez um pouco utópico, sem o ser. Acredito num Mundo solidário, melhor. Semear um pouco o amor, reparti-lo pelas crianças e adultos. Uma mensagem que, nós, como pais e mães, devemos transmitir aos nossos filhos. Somos responsáveis pela herança que deixamos aos nossos meninos."
Texto Carlos Lopes Pereira
(in Diário do Alentejo, nº 1915, de 03-01-2019)
(D.A, edição nº 1915)

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