terça-feira, 17 de julho de 2018

Estudo do barranquenho vai avançar com equipa da Universidade de Évora

"A Câmara Municipal de Barrancos e a Universidade de Évora vão renovar a cooperação para o estudo do barranquenho e o seu reconhecimento como língua. A candidatura a Património Linguístico Nacional é um processo demorado e complexo.
“Neste momento, está em fase de conclusão um novo protocolo com a Universidade de Évora, com medidas concretas de curto, médio e longo prazo, para o estudo do barranquenho”, incluindo “a elaboração de uma gramática e de um dicionário”. 
O protocolo está a ser preparado em parceria com a equipa de coordenação científica do Programa de Preservação e Valorização do Património Cultural Barranquenho, constituída pelos professores María Victoria Navas, Maria Filomena Gonçalves e Filipe Themudo Barata. 
A informação é de Dalila Lopes, vereadora da Câmara Municipal de Barrancos, que revelou ao “Diário do Alentejo” que a autarquia, em fevereiro deste ano, “retomou o contacto com os investigadores, no sentido de dar continuidade ao estudo do barranquenho e elaborar um programa específico de preservação e valorização da nossa língua, com o objetivo de obter o reconhecimento do barranquenho como língua cooficial minoritária”.
A eleita deu pormenores: “A criação de uma gramática e de um dicionário está dependente de um conjunto de medidas e de iniciativas de curto prazo e de carácter prioritário, que não foram iniciadas, como por exemplo documentar a língua. É necessário estabelecer um plano de trabalho sequencial. As ações que têm sido levadas a cabo, até ao momento, são ações isoladas, sem um plano de trabalho delineado e sem objetivos definidos. O protocolo existente, com a Universidade de Évora, celebrado em fevereiro de 2008, é bastante genérico e não contempla nenhuma ação específica que promova o estudo do barranquenho”.
Processo demorado
Em 2008, o barranquenho foi classificado como Património Imaterial de Interesse Municipal. Uma década depois, em junho de 2017, a Câmara de Barrancos, com o anterior executivo, anunciou que pretendia candidatar o barranquenho a Património Linguístico Nacional, junto do Ministério da Cultura, para ser reconhecido como língua oficial. E, numa outra fase, a Património Cultural Imaterial da Humanidade, junto da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Dalila Lopes explica, hoje, que a candidatura a Património Linguístico Nacional “é um processo demorado e complexo”, que “carece de um trabalho prévio devidamente organizado e documentado”. Processo, assegura, que terá início com a assinatura do protocolo em elaboração, ainda em 2018, entre a Câmara de Barrancos e a Universidade de Évora.
Falantes e ensino do barranquenho
O barranquenho é utilizado, hoje em dia, por todas as faixas etárias da população de Barrancos – menos de dois mil habitantes residentes no concelho, mas muitos emigrados na zona da Grande Lisboa e no estrangeiro –, no seu registo oral, mas sobretudo pelos mais idosos, que constituem o grupo de falantes “mais genuíno”.
Dalila Lopes, vereadora com o pelouro da Cultura, na Câmara de Barrancos, explica que “o envelhecimento destes falantes e o seu desaparecimento acarreta a perda irreparável de muitas destas práticas linguísticas e culturais”. 
Segundo a autarca, “a língua está em constante evolução, sendo óbvio que a pressão demográfica, o envelhecimento da população, a influência da escolarização e do uso obrigatório da norma padrão – o português –, e o contacto, cada vez maior, dos residentes com a realidade exterior e com os meios de comunicação têm implicações no registo oral das gerações mais novas, fazendo com que se percam algumas das características da língua”.
Daí, defende a vereadora, “ser urgente fomentar na comunidade uma consciência de defesa deste património único e ímpar no País e na Europa, para que o seu ensino, embora informal, possa ser uma mais-valia para a sua preservação”.
Longo trajeto a percorrer
Acerca da questão do ensino do barranquenho, Bento Caldeira, diretor da Escola Básica Integrada de Barrancos, considera que “um longo trajeto terá de ser percorrido”, por falta de estudos publicados – refere que há ainda insuficientes trabalhos de investigação, desde a Filologia Barranquenha (Apontamentos Para o Seu Estudo), de Leite de Vasconcelos, até ao recente O Barranquenho, de María Victoria Navas –, e esclarece que o agrupamento escolar, nesta fase, “não dispõe de recursos docentes nem documentais para implementar esta medida no currículo”. 
A concretizar-se o ensino do barranquenho, no futuro, “seria certamente uma medida de divulgação e preservação do património histórico e cultural do concelho” e “poderia ser apelativo para o interesse e a motivação dos alunos”. E, claro, é “importante” o esforço que está a ser feito para o reconhecimento do barranquenho como Património Linguístico Nacional e Património da Humanidade.
Quanto ao uso do idioma fora da escola, Bento Caldeira acha que “nos últimos tempos há uma tendência para a diminuição de falar o barranquenho”, predominando “o modo de falar português”. Ainda que, “em determinados espaços frequentados pelos mais velhos”, denote-se “o uso mais profundo do barranquenho”.
texto e fotos; Diário do Alentejo (16-07-2018/

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