António nasceu marcado pelo nome.
O mesmo que o vizinho da rua das traseiras, o homem que se fez doutor em
Coimbra e que ia à terra sempre que podia, o tal que governava o país com pulso
de ferro. Mas de pouco ou nada lhe valeu tão grande nome quando o destino o
enviou para Angola, para defender a pátria em nome da guerra que não era a sua.
.
Deixou para trás a sua terra, a
mãe inconsolável e Amélia, a mulher que pedira em casamento, num banco de
pedra, junto à igreja e que prometera fazer dele o homem mais feliz de
Vimieiro. Promessa gravada num enxoval imaculado que ficou guardado no armário,
à espera do fim daquela maldita guerra.
.
Quando António regressou de
Angola, era um homem diferente. Marcado no corpo por anos de guerra e de
cativeiro e no coração por um amor impossível que deixara em pleno mato
angolano. Regressava para cumprir a promessa que fizera antes à sua noiva
Amélia, que o julgara morto, e que, em sua memória, tinha enterrado um caixão
sem corpo.
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