Ontem, no jornal Hoy, de Badajoz. Para ler, apesar de conter várias incorrecções e disparates.
Foto retirada do jornal citado |
Notas soltas sobre os
lapsos/erros de JR Alonso Torre:
Conheci (!) J.R Alonso Torre, o autor da notícia acima linkada, por sugestão de J.C. Romero,
que vinha seguindo o seu percurso turístico pela raia, desde Valência. Eis que,
chegado a Barrancos o seu relato da viagem pelo “Pueblo dos 100 km”, não me soa
bem. Há coisas que não batem certo. Precisam de esclarecimento. Aqui vai:
1 – Comecemos pelo título onde se diz que (Barrancos) “conserva su dialecto espanhol”. Mesmo entre aspas, convenhamos que não existe
qualquer dialecto “espanhol”. Aliás, o próprio jornalista reconhece-o um pouco
mais abaixo, a meio do primeiro parágrafo, onde afirma que “sus habitantes hablan barranqueño, un
dialecto medio alentejano, medio castellano”.
Em Barrancos, diz-se, falamos três línguas. Somos bilingues
ou trilingues. O barranquenho (o dialecto), o português e o castelhano (ou
espanhol, como lhe queiram chamar).
É verdade que, quando falamos espanhol, utilizamos algumas palavras que não estão na língua de Cervantes ou pelo menos podem ter caído
em desuso. Recordo, agora, as judias (em
português feijão) que, no “nosso” castelhano surgem como “faisanes” (corruptela de phaseolus).
Quem, por cá, à pergunta “que tens hoje para almoçar e/ou jantar”, não ouviu como resposta “hoy
tengo faisanes” ou simplesmente “comi
faisanes” (não confundir com a ave).
2 – “… prefieren ver la tele española a la
portuguesa…”. Aqui também há muitas dúvidas. Se o artigo fosse de 1994 ou
2004, não duvidava, mas em 2014, não me parece que a “tele española” seja a
preferida! “Vemos” (eu também vejo) alguns canais espanhóis, mas em “doses”
muitíssimo mais reduzida que há meia dúzia de anos. (obs: Este é um assunto que gostaria de explorar num outro post. Seria de interesse saber se o barranquenhos vê mais TV espanhola ou TV portuguesa?! Estejam atentos.)
3 - “A Barrancos lo llaman el pueblo de los 100
kilómetros…”. Sendo verdade que estamos a 100 km “de tudo (ou quase) tudo”, não me parece certo afirmar, por nunca o ter
ouvido dizer, que a “Barrancos lhe chamam a
terra dos 100 Km”.
4 - Disparate maior (ou mais grande, como por aqui dizemos)
é afirmar (5º parágrafo) que “en 1974, se enteraran con seis meses de retraso
de que en Lisboa había triunfado la Revolución de los Claveles.”!!!.
Nem aquando
da Implantação da República, em 1910, isso sucedeu, quanto mais em 1974! Em Barrancos, a República foi Proclamada a 7 de outubro, dois dias depois da data oficial! Mesmo
não havendo televisão em todas as casas, as notícias fluíam e chegavam a todos os recantos do País com celeridade, através de jornais ou da telefonia (rádio Moscovo!?). Os jornais Século, o República e o Diário de Notícias, entre outros, chegavam
diariamente a Barrancos, por volta das 2 da tarde.
O cronista baseia-se
em dados supostamente recolhidos pela “investigadora
Victoria Navas en una comunicación científica a un congreso de historia en 1991.”.
Nunca tinha ouvido ou lido tal coisa e, mesmo atribuída à Victoria, que bem conheço, não sendo verdade, não deixa de ser um disparate. Grande! Não me parece que a a Victoria, que bem conheço, tenha dito aquilo, nem
como anedota para ilustrar o isolamento de Barrancos.
5 – É verdade que são empresários espanhóis que detêm a Casa
do Porco Preto. Mas, afirmar que os enchidos são “al estilo español”, já deixa muitas
dúvidas. São curados de forma natural, sem fumo, mas este processo antigo, que
também se deve à sabedoria ancestral e à influência cultural espanhola é
propiciado pelo microclima local.
“En Portugal, decir
jamón es decir España o decir Chaves”. Tal como referido para o ponto 2,
esta afirmação não me parece credível em 2014. Atualmente o Presunto de
Barrancos DOP, que dantes poderiam confundir com o “presunto tipo pata negra”, tem a qualidade e o merecido
reconhecimento nacional e internacional. Tem sido uma caminhada longa, mas não
me parece que haja muita gente que confunda o presunto de Chaves (fumado) com o
Presunto de Barrancos DOP. Quem aprecia e conhece a qualidade do nosso presunto
não pede, nem confunde o presunto de Chaves ou o presunto “Iberico” com o Presunto de Barrancos, que é reconhecidamente superior. Aliás, a Casa do Porco Preto de Barrancos que me corrija, se estou errado, exportamos presunto para a
China (e Macau), Japão, Angola, Brasil e
outros países BRIC, com a marca “Presunto de Barrancos DOP”, e não sob qualquer
outra suposta designação ou atributo.
2 comentários:
Jacinto: Soy un ferviente seguidor de los articulos de JR Alonso de la Torre, pero conociendo algo de Barrancos y los Barranqueños, me parecen muy acertadas todas las puntualizaciones que haces pues dejan las cosas en su sitio, aclarando y matizando para evitar dudas y sobre todo algunos topicos sobre barrancos y sus gentes
un saludo
Jesús
Olá Jacinto
Ainda não li o artigo do "Hoy" mas acreditando nas tuas observações, que tenho a certeza são oportunas, estou de acordo com elas e diria mais, seria bom que alguém fizesse chegar ao articulista uma contestação enérgica, a fim de que com ela ficasse esclarecido e mais apto a não escrever sobre um assunto para o qual não está devidamente actualizado.
Pode até essa pessoa ter escrito com intenção de denegrir Barrancos o que não gostaria que tivesse acontecido, sim porque eu não acredito em bruxas, mas que as há "ailas"
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