"Nesta pequena resenha
que vou traçar vou recuar no tempo! Se bem que não podemos recuar porque esse
passa sem nos apercebermos mas no entanto fica a memória de todos: velhos, meia-idade,
novos. Como dizia o autor: o tempo passa e o homem olha para ele
reconstruindo-o com a memória.
Tomando o pensamento
deste autor verificamos que os velhos, velhinhos já, com uma vivência antes da
década 50 e outros até fins da década de 60 princípio de 70 do século passado,
têm uma história da vida que olhando-a para a dos dias de hoje é uma diferença
abismal. Era trabalho casa/casa trabalho. Sol a Sol. Mal alimentados. Subnutridos,
mal vestidos, sem quaisquer agasalhos para suportar as invernias. Aguentando,
os trabalhadores rurais, todas as intempéries: lavrando, semeando, mondando,
ceifando, debulhando; pedreiros e outros, etc.. Muitas vezes tapando-se com uma
saca de sarapilheira por ausência de fatos de água porque não havia posse para
o comprar, em dias de chuva, encharcada em água pesavam o dobro ou o triplo do
peso dela, sem olhar ao peso que tinham encima, lutavam por todos os meios para
ganhar o sustento do dia-a-dia, quando havia, para alimentar os seus filhos e restante
família. Quantas vezes cheios de raiva e com uma debilidade extrema sem ter uma
saída para ganhar meios de sustentação para o agregado familiar!
Dias e dias, semanas e
semanas sem trabalho. Sem ganhar um tostão. Desemprego não havia. Regalias
sociais era uma palavra desconhecida.
Cada dia era igual ao
dia anterior e ao dia de amanhã e cada ano ao antecedente e ao subsequente.
Período este que trouxe muito constrangimento.
Chegado ao fim da década
de 50 princípio de 60, não havendo trabalho que lhes permitissem sonhar com
melhores dias verificou-se um grande êxodo com os jovens muitos deles
acompanhando os familiares emigraram para o estrangeiro, Lisboa e periferia e outras
paragens para poderem sobreviver e simultaneamente saírem do obscurantismo que
se vivia.
Não foi fácil para esta
gente. Gente que queriam trabalho e não tinham. Quantas vezes para ganhar o
sustento tinham de se deslocar aos trabalhos das estradas como por exemplo em
S. Martinho das Amoreiras, Santana da Serra e por outras paragens do país,
porque em Barrancos não havia, através do Fundo de Desemprego, por via da
Câmara Municipal de Barrancos, recebendo uma jorna diária de 20 escudos que,
deduzidos 1$40 (um escudo e quarenta centavos), para o Fundo de Desemprego,
usufruíam o valor líquido de 18$60 (dezoito escudos e sessenta centavos). Os
transportes para estas duas localidades eram feitos numa camionete de caixa
aberta como se fossem mercadorias que, em dias de chuva, eram tapados com um oleado
como se de mera mercadoria se tratasse. Bancos na camionete não existiam. O
Oleado não tinha qualquer estrutura de suporte. Era posto diretamente encima dos
corpos num percurso de aproximadamente 190 Km.
Raízes de sofrimento que certamente também
passaram pelos nossos antepassados.
Tempos de Infortúnio!
Uma vida cheia de canseiras!
Procuravam vender uma carga de estevas ou raízes de azinheiras que conseguiam
através dos mais abastados que depois de lhes terem tirado a lenha e ficado o
tronco rente ao chão, iam com cunhas e marra destruir o tronco e as raízes para
fazer a carga de lenha. Deitavam mãos a tudo que pudessem fazer uns centavos
para sustento familiar. Incluso, alguns, a varrer as ruas para juntar o estrume
que os animais defecavam na transição pelas ruas e juntarem-no numa estrumeira,
durante o ano, na periferia da vila, para mais tarde, no tempo da fertilização
das terras venderem gorpelhas de estrumes cujo valor era de: muar 3$50 (três escudos
e cinquenta centavos) e asinino 2$50 (dois escudos e cinquenta centavos) para
poderem angariar mais alguns tostões para sustento do agregado familiar. Tempos Difíceis! De salientar que com
este desempenho era uma forma de trazer as ruas limpas sem que o erário público
tivesse que gastar uns tostões com a limpeza das ruas.
Em síntese: Tempos de escravidão!
Diversões apenas
usufruíam em alguns dias festivos para poderem expandir a sua alegria que no
momento lhes iam na alma. O restante tempo do ano era trabalho, só trabalho e
canseiras.
Entretanto com o
advento do 25 de Abril de 1974 uma grande lufada de esperança se abriu na nossa
terra bem como em todo o país.
Quando tomaram
conhecimento que de uma parede saía dinheiro nem queriam acreditar, como é
óbvio. Fruto da tecnologia que atravessamos.
O Tempo entretanto
passou, que não para, e as camadas mais jovens entram numa fase de desenvolvimento
e tecnologia mais avançada nomeadamente a informática, permitindo-lhes novos rumos.
Todavia e apesar de
todo o desenvolvimento verificado, na nossa terra verifica-se, nos dias de hoje,
uma desertificação paulatinamente com a emigração das camadas jovens a procura
de trabalho que em parte, faz lembrar os tempos citados quando se cotejam.
Quem, gente daquele tempo, não se recorda de todos os trambolhões que
passaram!? Agruras do tempo, ou da
vida!!!
Barrancos, 26 de Setembro de 2019 - ass) José Peres Valério"
Rua da Igreja, anos 1980 (Foto: s/a) |
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