O semanário Expresso, do passado sábado, dia 29, noticiava que o governo espanhol teria apresentado ao governo português uma proposta de aprofundamento das relações políticas, visando reforçar uma parceria Ibérica, no domínio dos assuntos europeus. Se o plano entusiasmava o governo espanhol, esteve longe de ter o mesmo efeito do lado português. O plano, dizem, assustou os governantes portugueses.
Segundo a notícia, o plano iria mais além da cooperação europeia, e previa, entre outras medidas, o fim do “roaming dos telemóveis nas chamadas entre os dois países” e a promoção de um “Erasmus ibérico”, abrangendo não só estudantes, mas também uma “vasta categoria de funcionários”.
Para quem vive na raia, longe dos centros de decisão, provavelmente reconhece e valoriza as propostas, acreditando, que uma “parceria ibérica” vai sendo construída a pouco-e-pouco pelas populações locais. A Ibéria, de José Saramago, não é uma utopia.
Das medidas anunciadas (ou conhecidas), a de acabar com o roaming não pode deixar de ser aplaudida pelos barranquenhos e outros raianos. Em Barrancos, raro é o dia que, sem nos apercebermos, temos os telemóveis nas redes Orange ou Movistar, em vez das operadoras nacionais, com os consequentes custos acrescidos.
Mas será que a parceria ibérica que agora se pretende institucionalizar, não existe já de facto entre as comunidades raianas, dum e outro lado da fronteira?
No caso de Barrancos, destaque especial para o da promoção do “Erasmus”. Este projecto, à escala local, já consta no seu Plano Educativo Municipal (PEM), da responsabilidade da Câmara Municipal (CMB).
No PEM de Barrancos, aprovado em 2008 pelo Conselho Municipal de Educação (CME), sob proposta da CMB, está prevista, na área temática da Cidadania/Comunidades, uma acção vocacionada para o intercâmbio escolar entre os alunos do Agrupamento de Escolas de Barrancos e das escolas de Encinasola (Espanha).
Esta iniciativa constitui, segundo o PEM, uma prioridade para reforçar a identidade e a cultura local nas mais variadas áreas da educação formal, não formal e informal, com uma forte ligação à dinâmica cultural, às questões ambientais e à qualidade de vida das populações.
No domínio da educação, a redução do número de alunos e a necessidade de continuar os estudos de nível secundário noutras localidades, constitui mais uma semelhança que caracteriza estes dois territórios. Neste sentido, entendeu-se que valia a pena explorar novas oportunidades de aprendizagem, promovendo um intercâmbio entre as escolas dos dois municípios. Sendo medida inovadora, optou-se inicialmente por abranger apenas uma turma (ou parte dela) do 6º ou do 9º anos de escolaridade, conforme as oportunidades e disponibilidades das escolas/municípios.
Numa primeira edição desta acção, prevista para o final do corrente ano lectivo, o intercâmbio escolar assentará num processo de permuta de alunos, devendo ser entendido como uma actividade interdisciplinar de índole pedagógica e cultural, integrado no processo ensino-aprendizagem, organizado segundo objectivos previamente definidos, visando um melhor conhecimento mútuo, através da correspondência escolar, troca de material e participação na vida escolar dos estabelecimentos de ensino. Em próximas edições, o intercâmbio poderá ser alargado aos docentes.
Numa outra dimensão de politica educativa, e quando se fala de integração “ibérica” ou europeia, faz todo o sentido explorar a ideia, avançada durante a discussão do PME e já antes na Carta Educativa, de criação de um estabelecimento escolar comum para Barrancos/Encinasola, onde possa ser ministrado o ensino secundário, inexistente nestes dois municípios! Uma Escola Europeia!
A Escola (Secundária) Europeia, de Barrancos/Encinasola, a criar pelos dois Estados Ibéricos (ou pela UE?!), teria como destinatários preferenciais os alunos destas duas localidades, podendo alargar posteriormente a sua area de intervenção a outros municípios da euro-região (Alentejo-Extremadura/Andaluzia). De salientar que os alunos de Barrancos e de Encinasola, para prosseguir os seus estudos secundários, são obrigados a percorrer diariamente centenas de Km’s, saindo de casa de manhã (6-7h00) e regressando à noite (19-20h00).
Barrancos e Encinasola são comunidades locais muito próximas, geograficamente confinantes, que mantêm contactos desde tempos imemoriais. Contudo, apesar de integrarem realidades políticas diferentes, atravessam problemas e fenómenos sociais similares: despovoamento, envelhecimento da população; migração de jovens; etc.
A primeira edição do Erasmus Barrancos/Encinasola será concretizada durante este ano lectivo. A ideia da Escola Europeia, tendo como pressuposto uma cidadania Europeia plena, deverá ainda ser “amadurecida” analisando as suas potencialidades e constrangimentos institucionais, pedagógicos, curriculares, materiais, entre outros,
Em suma, se barranquenhos e marochos, já partilham bens e serviços e recursos – cuidados médicos (Encinasola), bombeiros (Barrancos), combustível (Encinasola), comércio (Encinasola e Barrancos) - … porque não partilhar também o sistema de ensino?
Afinal o que se pretende com o Tratado de Lisboa, que hoje entra em vigor?
2 comentários:
Olá Jacinto, boa noite.
Bom tema para meditar...
Domingas Segão
Olá Saramago! Vale a pena reflectir sobre estes assuntos. Quanto a mim, a Escola Europeia (a designação pouco inporta) parece-me uma ideia exequível. Mais, se me permites, acho que Barrancos tem estruturas que lhe permitem avançar com uma proposta desta natureza, neste caso juntamente com Encinasola. O actual edifício da C+S, ampliado, pode ser um bom começo. Força.
MA
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