Hoje temos uma pequena história ouvida há uns anitos ao tio Lopes por uma criança, à data, que há tempos a partilhou num módulo de formação profissional: o Amaro Garcia, a quem agradeço a cortesia da autorizar a publicação.
Está escrita em barranquenho, em duas versões*.
Versão barranquenha do eB
“Olha a pobri da Luarda, o chásco que lhe passó, poih deu um cohtelaço, que o burrancu se ehpantó!
Bieram dizendo a casa, que sa encontraram num caminho meio morta e sem fala;
A ambulância foi a buhcá-la e sa lebaram para Môra, poihs em Barrancos não habia médico,
A mandárum para casa, sem fazê-lhe mêmo nada.
A minha (mulher), que foi a bê-la, a achô muinto engonfada!
Eu a tinha bisto ali assentada no purtado, remendando-lhe a chamarrêta ao pai que ehtava dêtado, e le pergunte à filha máih piquena, que me disse.
– Minha mãe?! Uma alma pênada, só dorme de papurrita.”
Versão barranquenha do Amaro:
“Olha a probi da Luarda, o chasco que lhe passo, pois deu um costelaço, o burranco se espanto.
Sa encontraram no caminho meio morta e sem fala, bieram a dize-lo a casa, a embulância fui a busca-la, sa levaram para Moura, poi em Barranco medico não havia, lhe encontraram um porraço mesmo na arca bazia.
Eu a tinha bisto ali, assentada no portado, remendando-lhe a chamarreta ao pai que estava detado, e le pergunte a filha, a mais piquena, a Rita, que me disse.
A mandaram para casa sem
faze-lhe mêmo nada.
A minha que foi a be-la a acho muito engofada.
–
Minha mãe uma alma em pena só dorme de papurrita."
Nota
Como o Amaro bem me refere, *"a história está escrita no Barranquenho que a mim me
"soa" melhor no ouvido, uma vez que a Língua Barranquenha ainda
carece de reconhecimento oficial e de uma gramática que a ensine a escrever
correctamente, o que quando isto viver a acontecer, temo que não
haja Barranquenhos residentes em número suficiente para a manter viva.
Mas
pronto isto são" contas de outro rosário".
Concordo contigo.
Bonita historia
ResponderEliminarO Amaro que não se preocupe pois os que andam estão já tratando de arranjar uma professora de barranquenho para ensinar o seu barranquenho pois pelos vistos, essa professora é que sabe como se escreve o barranquenho. E claramente tem razão, cada vez somos menos residentes na nossa querida terra, somos pouco mais que 3 gatos pingados.
ResponderEliminarCumprimentos.
Ao anónimo/a das 01h47
ResponderEliminarPois é, sendo o Barranquenho uma das caraterísticas que ainda nos identificam do "montão", concordo que haja que preservar. Aliás, esta preocupação da preservação do património imaterial (linguístico) tem sido transversal a todas as CMs, praticamente desde 1976, mas foi em 2007 que houve condições para declarar "património imaterial de interesse municipal", o primeiro passo para uma fase seguinte, mas mais complexa: a declaração como PCI de interesse nacional!
A forma como o "ensinam" é que poderá variar, seja professor/a, monitor/a, ou ... bailarino/a. Uma coisa é certa, neste momento quem mais o pratica por estas bandas, em todas as suas intervenções, publicas e privada, no dia-a-dia, não tem nenhum desses títulos: é um/a barranquenho/a castiço/a, orgulhoso/a das suas origens. Há gente assim. E ainda bem. Bjs/para esta/s pessoa/s.