quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A estação de caminhos-de-ferro de Barrancos

O comboio não chegou a Barrancos e parte dos motivos que o justificaram, na época, o desenvolvimento da industria mineira, desapareceu em 1975 com o encerramento da última mina em atividade na nossa região, a mina de Apariz. 
O título desta notícia parece uma brincadeira, mas fiquem sabendo os leitores do eB que o assunto chegou a ser estudado a nível governamental, que admitiu expressamente a possibilidade da sua construção, no âmbito do plano de ampliação da rede de Beja, Serpa, Moura, e… Barrancos (seguindo depois por Espanha adentro).
Há 123-125 anos, o ministro das obras públicas de então, Frederico de Gusmão Correia Arouca, em resposta à pergunta do deputado da região, Fialho Machado, dizia na sessão do Parlamento (Câmara dos Deputados) de 4 de julho de 1890, o seguinte: “O prolongamento do caminho-de-ferro de Pias para Barrancos é, a meu ver, de toda a importancia, não só pelas, considerações que o illustre deputado fez, mas por causa, do desenvolvimento da industria mineira, que póde ser importantissima n'aquellas regiões, e tanto que eu, antes mesmo de se apresentar no ministerio das obras publicas um requerimento para o prolongamento do caminho de ferro até Barrancos, mandei estudar essa linha, a ver se podia facilitar n'aquella região a exploração de similhante industria.
Tempo depois, apresentou-se no ministerio um requerimento, pedindo a concessão do prolongamento dessa linha, requerimento a que dei o devido seguimento, e posso assegurar ao illustre deputado que hei de empregar todos os esforços para que o despacho se dê bom brevidade, a fim de se poder tomar uma resolução condigna aos desejos de s. exa. e em harmonia com o que é de toda a justiça.” (Apêndice da Sessão do Parlamento de 04/07/1890 – pág, 1030)
Sete anos antes, na sessão parlamentar de 30 de janeiro de 1883, o ministro da obras públicas, Hintze Ribeiro, que depois seria presidente do governo, dizia que “se a importancia e a conveniencia dos caminhos de ferro do sul e sueste precisassem de uma demonstração, estava ella plena e inteira no discurso do illustre deputado” (Mariano de Carvalho), que tinha acabado de apresentar a proposta de alteração ao plano das linhas ferroviárias, obrigando "o governo a construir primeiro o troço de Cazevel a Faro e os de Serpa a Pias e Pias á fronteira (Barrancos)...."
As decisões do parlamento e os esforços ministeriais de "dar o devido seguimento" foram, como se sabe, por água abaixo. Hoje conhecemos a história. O comboio “ficou” por Moura, cujo ramal foi desativado em 1990/91, se a memória não me falha. A automotora nunca chegou a Barrancos!
Contudo, é interessante ler as atas dos debates da Câmara dos Deputados de 30/04/1880 a 04/07/1890, para conhecer a política do governo português no domínio das ligações ferroviárias e a necessidade, "urgente", de prolongamento deste até Barrancos, por se tratar de “melhoramento da máxima importância para os povos da margem esquerda do Guadiana”.
Um debate semelhante continua 120 anos depois, agora sobre as ligações do comboio de alta velocidade (TGV) e a sua “subjugação” às vontades e interesses europeus. A história repete-se...
"A linha de comboio de Barrancos". Fotomontagem eB

1 comentário:

Anónimo disse...

Boas,
agora percebo a história que o meu avô contava: dizia, ele, que o comboio passar pela mina (de Apariz), onde tinha uma estação; a estação de Barrancos seria nas Quarelas (Canto de cima?) e daí a linha continuava para Espanha. Pensava que eram histórias, fantasias, mas lendo a notícia vejo que talvez fosse verdade, ou pelo menos, tivesse alguma pontsa de verdade.